Considera que ler histórias às crianças influência os seus hábitos de leitura na idade adulta?

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Era uma vez...um livro, uma história de encantar e um mundo de potencialidades

Histórias e infância são palavras que quase se confundem por estarem tão intimamente relacionadas. A curiosidade natural das crianças prende-as desde tenra idade aos contos, às histórias de encantar e desperta-lhes a paixão pelos livros. Tal como no brincar, os ambientes educativos que proporcionam as condições necessárias para o aparecimento do prazer pelo livro e posteriormente pela leitura apelam efectivamente à aprendizagem sem limites e onde a imaginação se confunde por vezes com a realidade numa combinação que servirá de base à construção do significado pela criança. De acordo com alguns autores, “o jogo e o conto de encantar apresentam a mesma estrutura nuclear: os jogadores/ as personagens; as acções dos jogadores/ as acções das personagens; os objectos-brinquedos/ as palavras-imagens; o tempo, o espaço” (CEFEPE, 1999, p. 24). Isto acontece porque nas histórias, tal como nos momentos de brincadeira convivem os binómios fantásticos, isto é, a magia e a fantasia que abrem o caminho à transgressão, ao mesmo tempo que mantêm a ligação à ordem e à regra. Uma história, quando se encontram reunidas as condições essenciais, transporta a criança para um tempo e um espaço verdadeiramente mágico, intensificado. Com a prática da fantasia, do desvio linguístico, da liberdade, da turbulência e a par de regras, constroem-se contos que abrangem o jogo simbólico, o jogo de regras e os jogos da linguagem. Mas serão os livros e as histórias actores principais no processo de aprendizagem? De acordo com Hohmann e Weikart (2007) “retirar prazer da linguagem e ouvir e inventar histórias e rimas alarga a compreensão do uso e da eficácia da linguagem como meio de comunicação” (p.545). Assim, através de um momento lúdico, as crianças alargam o seu vocabulário e experimentam a relação entre escrita e a leitura. De facto, segundo alguns estudos, talvez não haja realmente nenhuma outra actividade tão importante para a emergência da literacia na criança como a leitura de um livro por um adulto atento e disponível. O livro torna-se assim numa ferramenta de que o educador não pode prescindir e uma “resposta viva à procura, ao sonho, à necessidade de experiência para conhecer. Com ele a criança chega e parte constantemente, podendo ir onde quiser, alimentando-se, descobrindo, enfim, crescendo” (SILVA, 1991; p. 36). Ao educador pede-se que promova as condições necessárias para a emergência da procura, da fantasia e da descoberta. Outro aspecto a considerar é a qualidade. A qualidade dos livros, das imagens que ilustram a história e a narrativa. Quando lê, o adulto não pode deixar de lado a comunicação não verbal dada a importância do “ afecto da voz que tem rosto que se alegra ou entristece não só com o que conta mas em empatia com aquele que escuta” (ARAUJO, 1992; p. 36). Por outro lado, as imagens têm também um grande peso. Segundo Silva (1991), a “ imagem enriquece o vocabulário através da necessidade de verbalização e, em simultâneo, desenvolve a linguagem, motiva para a leitura e a escrita e proporciona o confronto com juízos de valor que interiorizados, vai ajudar a sua formação como ser social” (p. 37). Para além disso, e particularmente em creche, promove e ajuda a construir uma organização temporal uma vez que a criança vai interiorizando a história sequencialmente no seu tempo e no seu espaço. Para terminar esta reflexão, gostaria de citar Bassedas, Huguet e Sole (1999) que nos lembram que “as linguagens servem para representar a realidade, para podermos criar, comunicarmo-nos e divertirmo-nos” (p. 76) e que melhor forma de podermos criar e representar a nossa realidade se não a partir da fantasia das histórias, dos pózinhos de perlim pim pim dos contos de fadas ou da magia dos livros? Através destes instrumentos criamos os traços da nossa personalidade, vivemos a dualidade do bem e do mal, onde o bem quase sempre triunfa e acabamos por nos perder no era uma vez... Os receios e as angustias que encontramos no crescimento dissolver-se-ão, não com o abandono da fantasia mas com a ajuda dela.


Bibliografia

•ARAÚJO, Matilde Rosa (1992) – O conto e a magia da Palavra in Cadernos de Educação de Infância. Lisboa. Nº 22, pp. 34-38.•BASSEDAS, Eulália; HUGUET, Teresa e SOLÉ, Isabel (1999) – Aprender e Ensinar na Educação Infantil. Porto Alegre; ArtMed. ISBN 85-7307-517-1

•CEFEPE, (1999) – Das histórias de encantar ao encanto de crescer... in Cadernos de Educação de Infância. Lisboa. N.º 50, pp. 22-25.

•HOHMANN, Mary; WEIKART, David P. (2007) – Educar a Criança. 4ª Edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

•SILVA, Ângela (1991) – Livros para a Infância e suas leituras: muitas questões se podem levantar in Cadernos de Educação de Infância. Lisboa. N.º 20, pp. 36-38.

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